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Augusto Ruschi é homenageado no Mosteiro Zen Budista Morro da Vargem

Foto: Rogerio Medeiros

Uma emocionante cerimônia ao redor do túmulo espiritual de Augusto Ruschi foi a retribuição generosa com que o abade do Mosteiro Zen Budista Morro da Vargem, Daiju Sam, respondeu ao pedido feito pela família de visitar o local em busca de fortalecimento espiritual face à grande batalha empregada para salvar da extinção o Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, em Santa Teresa (região serrana).

 
Fundado em 1949 pelo célebre capixaba Augusto Ruschi, um dos cientistas e ambientalistas de maior prestígio nacional e internacional, o Museu Mello Leitão corre sério risco de ser extinto. A ameaça surgiu dentro de um dos polos científicos do Espírito Santo, a partir de um grupo de professores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
O primeiro grande efeito dessa questionável mobilização acadêmica surgiu em 2014, com a publicação da Lei nº 12.954, que literalmente extingue o MBML para então transferir todo o seu patrimônio ao Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), criado pela mesma lei.
A ignomínia, a princípio, não foi percebida nem mesmo pelos fiéis seguidores de Augusto Ruschi. Travestida de uma ação necessária à transferência de vínculo do Museu, do Ministério da Cultura para o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTIC), a criação do INMA foi recebida como uma valorização do legado do naturalista, que passaria a acolher uma instituição científica de caráter nacional.
Alertas ignorados
A ameaça começou a ser denunciada pelo filho caçula do fundador do Museu, o biólogo Piero Angeli Ruschi, em meados deste ano, após as ações drásticas de fechamento do MBML em decorrência de dívidas com serviços básicos para seu funcionamento, como segurança, recepção e limpeza.
Tempos antes, Piero já havia manifestado sua contrariedade ao encaminhamento que o grupo de professores da Ufes dava à continuidade da transferência de vínculo entre os dois Ministérios, alertando o perigo de um texto legal que extinguia o Mello Leitão, o único museu de história natural do Estado.
Ignorado em seu posicionamento, excluído do debate efetivo, e convidado apenas para reuniões protocolares em que continuava sendo ignorado, Piero chegou a ter negado o pedido de renovação de sua participação como pesquisador voluntário do MBML.
Agrupados no Movimento em Defesa do INMA (MoveINMA), os professores passaram a difundir seu plano nas redes sociais, angariando apoio de pesquisadores e ambientalistas no Espírito Santo e outros estados.
Desconhecimento ou manipulação?
O último abaixo-assinado digital, ainda no ar, chega ao desplante de afirmar, em seu texto introdutório, que o INMA foi criado por Ruschi em 1949, “com o nome de Museu de Biologia Prof. Mello Leitão”. Ou uma ignorância monumental sobre dados elementares da gênese e história do Museu ou, o que é mais provável, diante dos absurdos vistos até aqui, uma explícita tentativa de confundir a sociedade e agregar mais apoiadores ao equivocado Movimento.
Fica muito fácil enxergar a intenção vil do texto quando se testemunha o esvaziamento drástico da imagem de Augusto Ruschi que tem sido imposta ao Museu após a morte de seu fundador, em 1986. A retirada violenta de obras pessoais e fotografias do cientista deixa um vácuo na história da instituição e não é raro que pesquisadores passem pelo Museu sem se dar conta da importância de militância de Guti (como Ruschi era conhecido na cidade) não só para a instituição e a cidade, mas para a Mata Atlântica como um todo. 
Outra grave falha moral – e provavelmente também deslize legal – cometido pelos integrantes do MoveINMA, foi não ter ouvido a população, a Câmara de Vereadores e nem a Prefeitura de Santa Teresa antes que o processo de tentativa de extinção do Museu e da memória de Augusto Ruschi começasse a ser colocado a termo.
Piero denuncia ainda a gravidade da omissão da própria direção do Museu, que delegou a tomada de decisões sobre o caso a uma ONG, a Sociedade de Amigos do MBML (Sambio), que tem se privado de exercer sua primordial finalidade estatutária, de zelar pelo Museu.
Numa corrida contra o tempo, Piero se dedica a esclarecer a sociedade sobre as ações que precisam ser empreendidas para que de fato o Museu seja fortalecido pela criação do INMA. O filho caçula de Ruschi tem exaustivamente explanado sobre a necessidade de viabilizar o acolhimento do INMA dentro do Museu, para que ambas as instituições se complementem e se fortaleçam, a exemplo do paraense Museu Emilio Goeldi.
Os beija-flores e a chuva
Na Assembleia Legislativa, na Câmara de Santa Teresa, na bancada capixaba no Senado Federal, no Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), por onde passa, o filho caçula de Ruschi tem recebido manifestações de apoio, mas as ações ainda não se concretizaram nas correções legais necessárias, prevalecendo então a insegurança institucional que ameaça a sobrevivência de uma das instituições de pesquisa mais respeitadas no país e desonra a memória do Patrono da Ecologia do Brasil.
Na homenagem prestada pelo Mosteiro Zen neste domingo (13), Piero convidou a todos os que conhecem o legado e reconhecem a importância de Augusto Ruschi para a conservação da Mata Atlântica, que se somem na luta. “E que se manifestem, a partir de hoje, sobre o que está acontecendo no Museu Mello Leitão. As lições do meu pai não são lições que cabem somente a mim transmitir”, discursou o biólogo.
O abade do Mosteiro, Daiju Sam lembrou que, quando o túmulo espiritual de Ruschi foi inaugurado, em 1986, vários beija-flores sobrevoaram o local, após a cerimônia. Neste domingo, a chuva que há três anos não molhava verdadeiramente a terra no alto do Morro da Vargem, caiu do céu majestosa, lavando a alma dos admiradores de Ruschi e saciando sua sede de justiça, pela sobrevivência do Museu Mello Leitão e pela memória de um dos mais ilustres capixabas, o homem que mais conquistou vitórias pela Mata Atlântica em toda a história do bioma. 

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